Voltando pra casa encontro um bar e nele eu me sento. E por ali eu bebo.
Embriaguez.
Lúcida embriaguez.
Contradição talvez, menor embora que a vida que cresce tímida em meio aos grande blocos de concreto e ali mesmo se esgota, na volta e na ida, na ida e na volta. O tráfego, o asfalto, o carro, o sapato apertado e antes dele a meia que encobre de novo os meus pés comprimidos, brancos e suados, como se fossem também eles de plástico e não somente minha vida e os desejos que se oferecem prontos e multicoloridos nas placas de neón, desgraçadamente a brilhar. Sim, os pés, os sapatos, e a espessa camada de parafernálias semiológicas que se colocam entre eu e eu mesmo, entre o simples contato com a terra – que não há – entre uma mão e a outra, entre a mesma conversa de duas pessoas ou mesmo entre uma simples genitália e outra, cobertas da ranço abafado dos tantos panos, das tantas regras, das tantas rixas sexistas...
O ritmo das avenidas compridas e rápidas exigindo o reflexo imediato no fluxo de uma vida que te priva de pensar, ver, fruir. A velocidade assassina que acelera a alma atrás da qual todos correm afim de não perdê-la de vez.
O que oferecer a eles, a mim, a nós todos, sofisticados ratos metropolitanos? Sentido. Estão todos sedentos... sedentos por sentido no centro do cubo dividindo o espaço com mil conveniências do sexo oposto e dos seres paridos repletos de intermináveis pedidos e cobranças que brotam das mil placas coloridas. Por mais que se tenha, tanto mais te falta...
Daí a gente pega um buzão e tá lá Paulim com o pé no chão.