quinta-feira, 17 de fevereiro de 2011

SUJEITO HOMEM

                                                                                                                                             by: Ursinho.
“Eu gosto de você porque você é sujeito homem” - disse a mulher em febre com o corpo contorcido e os olhos revirados para cima, sussurrando tais palavras entre seus espasmos. Tratar-se-ia de uma bela trepada, mas bem poderia ser a cena de uma das virgens do oráculo recebendo um espírito.

Apesar de os ouvintes advertirem que, para tamanha algazarra, o que a moça recebia dentro de si não era um espírito, e que por isso mesmo já não era criatura assim, tão imaculada. Seja como for o pobre homem não viu em si o tal do “sujeito homem” do qual sua companheira falara, e ao bem da verdade, ele nem sabia o que era aquilo.

Na busca por uma explicação minimamente plausível, chegando ao conhecimento comum, todos preferiram tratar o caso como uma espécie de mistura entre as duas coisas, algo que fosse ao mesmo tempo trepada e incorporação. Daí surgiu o Sujeito Homem (agora com letra maiúscula), descrito como uma entidade tarada a vagar serelepe pelas dependências do Bordéu, cuja  constituição meta-plasmática a tornava carente das carnes tão caras ao amor.

Ora se apodera do corpo de um, ora do corpo de outro, respondendo assim pelas peripécias sexuais que essas pobres pessoas esbanjam no verão. As vítimas dessa entidade chegam em casa com costas unhadas, joelhos e ombros ralados, contorções diversas, garantindo não se lembrar de nada.

Ficou agora claro que foi o Sujeito Homem quem possuiu a mulher em questão, e não aquele sujeito em particular. Após averiguado esse fato, tivemos no Bordéu mais quatro ocorrências para situações que indicam participação do Sujeito Homem. Ninguém ainda quis ser exorcizado.

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