terça-feira, 8 de fevereiro de 2011

A CHUVA (by: Ursinho)



  “Eles vão trocar a passagem por pelo menos três vezes” - foi o que Paulinho falou sobre a turma que chegara do Rio, e agora estava às vésperas de se despedir - “esse tal plano de viajar para a Chapada Diamantina é coisa de anos, e lhe garanto que eles não conseguem sair daqui com facilidade.” Achei engraçado.
  No dia seguinte iríamos todos embarcar no Rei Cigano, um velho barco de turismo que nos deixaria em Corumbau, lugar do qual os dissidentes seguiriam viagem. As malas estavam prontas na varanda, e todos prontos para partir. Porém, naquela manhã, Wagner Marrento estava mais agitado que de costume. Esticava o pescoço para fora da casa, olhava o céu, o sol, e pensando em não-sei-o-quê decidiu andar um pouco pela rua. Retornou dizendo: “Não vou mais”. Pois apesar da manhã de sol, um marujo lhe garantiu que o mar estaria revoltoso em função do temporal que se aproximava, e que estavam esperando tufões, maremotos e monstros marinhos. “Não vou!”, reafirmou Marrento com convicção.                                                                    Seus amigos se entreolharam como que acostumados com aquela história, e decidiram seguir viagem sem ele. Eu, Tom Sick, Leon, e sua irmã, Ingrid, resolvemos também cancelar nossa viagem a Corumbau. Houve uma certa tensão, pois a separação das turmas se daria um pouco antes do previsto, e pegou a todos de surpresa. Ficamos da praia olhando o barco que levava nossos amigos viajantes, e vimos uma grande tempestade se formar. Por alguns instantes fiquei feliz pela chuva, provavelmente em função daqueles orgulhos bobos que a gente tem de estar certo.Voltamos para o Bordéu e ficamos presos na varanda, observando a chuva. De um modo estranho nos sentimos felizes com o fato de termos ficado, e decidimos celebrar, fazendo alguns drinks e uma canção para esse imponente pretexto de ficarmos mais um pouco em Cumuru:
...



A Chuva

Lava a alma, passa o tempo
o pensamento e esconde o sol
Lava pé lava mão, lava jato, traz a rima
Lavar a alma

A chuva cai
Lá fora
Lavar a alma

Leva lama, lava planta, lava rua, cresce a grama
Lavar a alma
Molha a roupa, prende em casa
e a gente pensa em namorar

E a chuva cai
Lá fora
Lavar a alma
E a chuva vai
Embora

3 comentários:

  1. Ursinho, seus textos são os meus favoritos! Adoro quando você conta mais uma das várias cômicas estórias. Continue!

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  2. Parabéns pela poesia, pelos escritos e por sua arte.
    Gostei muito dessa poesia da Chuva!

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