quarta-feira, 19 de janeiro de 2011

31.12

            O grande dia chegou. A despedida de um ano que termina e o momento de saudar mais um ciclo que se inicia. Um momento de comemoração, de reflexão; mas aqui no bordel, momento de juntar esse grupo de ótimas pessoas e distribuir sorrisos e energias positivas para o mundo.
            Pela manhã, acontece aquilo que acontece todos os dias; os que acordam mais cedo se encontram na varanda para lembrar dos bons momentos do dia anterior. Os assuntos referentes à festa no escuro tomaram todo o dia, pois sendo uma coisa completamente inesperada, e tão boa, havia muito o que contar. Os amigos da Alemanha estavam extasiados, mais do que os outros, se surpreenderam com a festa a luz de velas (algo bem visível na face dos dois), e prometeram algo para a noite de reveillon.
            Os homens da casa, como boas safras de mineiros e cariocas, estavam com uma vontade absurda de jogar um futebol (e o fizeram, mas você pode ler isso num outro post com mais detalhes). Partida encerrada, hora de ir para casa, beber algo, sentar na varanda, cantar alguma música nova do Márcio Branco e esperar pela festa.

            

            Mais tarde, por volta das 21h, Katja (alemã-já-abrasileirada) chama o Thom para lhe mostrar o que fora preparado, o rapaz não se empolga, esperava por algo simples (algo como um garrafa grande da cerveja especial da Katja, uma mistura caseira e delicada de cerveja com Coca-Cola). Mas puxado pela garota até a cozinha, ele arregala os olhos naquele seu jeito todo esquisito e chama os outros para darem uma olhada na enorme melancia com um pequeno bilhete colado (escrito “cuidado”, e o desenho de um smile que Katja coloca em todo o canto, todo torto e que mais parece uma criança sentindo dor). “O que tem ai dentro?” – pergunta o rapaz; já misturando inglês com espanhol ela responde “mi amigo, it’s a secret...”.

            

            Wagner já comemorava o reveillon com sua viola na varanda, há doze centímetros da sua mão, seu inseparável copo de pitanga, que nunca ficava pela metade, graças ao amigo Leão de Chácara. Ninguém conseguia responder de onde saiam tantas garrafas e latas de cerveja, para evitar pensar muito, decidimos que toda a cerveja era infinita mesmo. De dentro da casa, começa uma gritaria vindo da cozinha, os gritos aumentam para quem faz festa na varanda, e ao centro de tudo, Sebastian e Katja carregam juntos a melancia. Abre-se então espaço na mesa “cuidado com a pitanga, porra” – grita Wagner. Do bolso Sebastian retira sete canudinhos, abre o topo da melancia e diz “let’s taste it”, alguém teve que traduzir porque ele fala pouco português. Canudos dentro da fruta e uma rápida experimentada, alguém pergunta “tem alcool ai dentro?”, alguém com a cara dentro da fruta responde “muito, mas ta gostoso!”.



            Os batuques se aproximam e a rua começa a ficar cheia; os dois garçons, Marco (Ursinho/Gordice) e Thom-Sick correm para a cozinha para preparar alguns drinks para levar para a praia, Katja grita nervosa uma frase já traduzida do espanhol e inglês “Meu Deus, Meu Deus, eu levo a melancia? Levo a melancia???”, a enorme fruta ficou na geladeira, ninguém estava disposto a carregar aquilo numa festa. Todos prontos para os fogos na praia



            Os sons dos batuques do grupo de música da cidade encantaram a todos, a cidade inteira já dançava atrás dos garotos, que após cruzar toda a rua principal, terminariam o seu show na praia, junto da queima de fogos. O casal de alemães desapareceu antes de cruzarmos os setenta metros que separam o bordel das ondas do mar, o chefe da casa pediu tempo, pois queria fotografar todos e não deixar mais ninguém se separar. Mas não teve jeito, Justin foi o primeiro a ser abduzido por uma garota um pouco mais velha que ele, mas que possuía vontades obscuras no menino.
  

            Os primeiros rojões colorem o céu, as pessoas começam a cantar e gritar em puro êxtase, um momento universal de alegria contagia a todos. Não houve contagem regressiva. As pessoas começaram a se abraçar; não havia distinção alguma, não havia tempo para esse tipo de coisa; amigos, conhecidos, pessoas que simpatizavam umas com as outras, todas unidas em um simples ato de “Feliz Ano Novo”.



            Os fogos ainda não tinham acabado e Paulo, dono do Bordel já grita “virada de ânus!”, ordem essa que sua prole obedeceu rapidamente após uma certa organização de onde cada um iria ficar para a foto.



Achei graça de ver o Ursinho e o Thom-sick cantando embriagados Live Forever do Oásis e pulando como gazelas no cio. Havia uma roda de violão em volta de uma fogueira, que eles atrapalharam com a cantoria; mas como um fantasma, Katja se junta aos dois cantando a mesma musica e deixando a roda furiosa. Correram dali rapidinho.
            A chegada ao Zona Livre, bar do glorioso Regis foi a de sempre. Já havia dezenas e dezenas, talvez centenas de pessoas já cantando e dançando; o grupo ainda estava unido, mas uns e outros começaram a se separar, culpa da bebida, ou do sexo oposto. Acho que depois do Justin, o segundo a ser abduzido foi o Leão de Chácara. Ele conversava com uma mulher um pouco mais velha, mas mal sabia ele que tal vil fêmea iria se aproveitar de sua inocência. Depois de alguns poucos beijos, alguém ainda conseguiu ver o rapaz ser praticamente rebocado pela mulher, que o puxava pelo seu quinto membro. Ele só foi visto no dia seguinte.


            Ingrid, gloriosa irmã do glorioso Wagner, já estava completamente satisfeita e feliz enquanto curtia a festa a partir da quinta dimensão, plano superior de onde os bons se divertem. Thom-Sick já não conseguia conversar direito (apesar de ainda conseguir se manter extremamente gentil e cortez, a base de gestos), Marcelo Mendigo já havia desaparecido, João sambava como poucos, mas desapareceu também. Ursinho finalmente conquistou sua Ursinha, Marcio Branco (que todos os outros homens fazem de tudo para se manter longe, de modo que sobre algumas gatinhas para eles) conquistou sua cara-metade do verão. O dono do Bodel também se deu como desaparecido. O casal de alemães, já abrasileirados, não foram mais vistos.
            Que eu me lembre, pois não sou de ferro, as coisas andaram assim. Uma virada de ano, e de anus, como poucas. Pessoas que pouco se conhecem estavam juntas, sorrindo e se abraçando em total harmonia. Não vou afirmar que a vida deveria ser assim, que todos deveriam ser assim; mas sinto um orgulho danado de poder apreciar pessoas como essas, juntas, mesmo que apenas em um breve momento, mesmo que apenas uma vez por ano.

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