sábado, 22 de janeiro de 2011

BICICLETADA (por: Ursinho)

Dez e meia da manhã. PC Farinha, uma entidade das adjacências, generosamente abandonou seus afazeres e decidiu levar três pessoas e um adolescente para um passeio de bicicleta. Alugamos as bikes. E o curso, apesar de maravilhoso, não foi fruído exatamente como um passeio, mas como uma espécie de aventura hardcore.



 Quatorze quilômetros de areia fofa, água, pedras cortantes, escaladas loucas, sol escaldante, fome, sede... todas essas coisas para um ser constituído de pele e osso, um hipocondríaco que vive tossindo, um professor de educação física cachaceiro e um sedentário barrigudo são bastante desafiadoras.

 Não obstante, cortamos maravilhosas trilhas por dentro da mata atlântica, fomos advertidos sobre cobras assassinas, ervas alucinógenas e bicicletas sem freio. Desfrutamos a paisagem, cortamos praias que, para dizer o mínimo sobre elas, são simplesmente paradisíacas. Justin Bieber as vezes arranhava a contemplação com sua voz em processo de metamorfose, meio homem, meio gralha bêbada, mas nada que incomodasse muito. Ele era sempre muito útil para descontarmos nossas frustrações e instintos violentos de maneira totalmente impune. O único castigo era ter que aturá-lo. Ele é um bom garoto.


Leon, comedor de torresmo e tomador de Rum, tentava salvar sua dignidade de suposto atleta disparando pedaladas vorazes na frente daquele curioso bando. Óbvio que elas não duravam muito e logo o passávamos. Eu tentava provar que vinte quilos de sobrepeso não atrapalham ninguém. Às vezes conseguia ultrapassar o próprio PC, guia do bando, que tomava a ponta com sua Caloi 1980 sem marcha, levando na mão esquerda seu Derby Silver, tragado na perfeita consonância de suas pedaladas de urubu malandro. Obviamente esse posto não poderia durar muito, pois 20 kg são quatro sacos de açúcar .... não dá. Então surgia a coisa mais vergonhosa que se pode imaginar. Tom Seek, o tuberculoso hipocondriaco, com seus olhos de peixe morto e pedaladas brandas, começava a me passar. A cada movimento das suas finas pernas doentes e preguiçosas, alguns centímetros à minha frente. Justin Bieber, por sua vez, nunca conseguia passar ninguém. Tom Seek também se cansava. PC reassumia a liderança. Afinal de contas, ele também era nosso guia.

Invadimos a casa de um sujeito apelidado de “deus”. Alguns garantem que ele é o próprio. Seja como for o homem mora no paraíso, com uma fantástica vista à beira mar. A primeira casa de deus a ser adentrada no paraíso estava meio abandonada, e no sótão, onde ficava um singelo e bonito mirante, Tom Seek nos narrou das proezas sexuais que seu saudável tio cinquentão executou naquele local, repleto de posições exóticas, estrelas cadentes e fezes de rato.



 Passamos por uma ponte estilo Indiana Jones que levava à outra casa. Roubamos manga e côcos para fazer dois Crazy Coconuts (cachimbos artesanais) para cigarros não-nicotinentos. Depois seguimos para uma pequena represa construída por deus, de onde jorrava a água que caía na banheira de deus, que por sua vez abrigava forasteiros exaustos e sedentos de suas frescas e fortes águas. Fizemos algumas macaquices alegres e Tomamos um digestivo preparado por PC. Ficamos meio lesados e seguimos.


Voltamos pedalando a favor do vento, o que para Justin-Caveira-Humana e Tom-Seek-Quase-Morto era de alguma ajuda. Eu e Leon de Chácara com nossos cem quilos não recebemos tamanha ajuda desse fenômeno natural

O bando parou sobre uma formação rochosa, que era a zona-limite para a jornada pela beira da praia. PC, o ninja-maluco-mameluco escalou um artefato rochoso com seus 60 quilos transportando uma bicicleta com o dobro do seu peso. E nós, obviamente não fomos capazes de fazer o mesmo, mas de um modo ou de outro, subimos. Devo inclusive admitir que nesse instante produzi aquela que foi sem sombra de dúvida a cena mais jocosa da tarde. Tive que escalar me arrastando por um lugar que, além do nosso guia ninja, Tom Seek Hipocondríaco, Justin Pele e Osso Bieber, e Leon di Chácara Torresmeiro passaram em pé. Eu tinha o argumento do pé cortado momentos antes, nas ostras da praia – o que Tom Seek chamou de mais uma “gordice”. Mas de fato, não havia desculpas. Onde essas pessoas passam em pé, até um homem sem pés passaria.


 Seja como for, após as devidas resenhas seguimos viagem e chegamos quebrados. Fui imediatamente para o campeonato de Xadrez que ocorria na Vila. Meu cérebro regado à endorfina deixou escapar dois xeques-mate no adversário de 14 anos que, de um modo ou de outro me foi superior, e venceu.


Cheguei na casa com meu troféu semi-looser de segundo lugar acompanhado de uma cerveja estranha que ganhei como prêmio. Tomei um banho e aqui estou. Em breve vamos comemorar o aniversário de Leon di Chácara. Na verdade já estamos comemorando. Boa festa para nós!







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